Microdose de cogumelo funciona, ou é placebo?

A microdose de cogumelo tem se popularizado cada vez mais como uma possível opção de tratamento complementar para uma série de condições psicológicas, mas será que ela realmente funciona, ou é apenas um efeito placebo?

Neste artigo, vamos explorar as microdoses de cogumelos psicodélicos por vários ângulos distintos e tentar compreender se é realmente um tratamento eficaz ou não. Abordaremos relatos de usos terapêutico, efeitos adversos e pesquisas atuais relacionadas à microdosagem de cogumelos.

O que é a microdose de cogumelo?

A microdose de cogumelo é uma prática que envolve a ingestão de quantidades muito pequenas de cogumelos contendo psilocibina. Dessa forma, os efeitos psicodélicos não são pronunciados e, teoricamente, só ficam os benefícios terapêuticos dos alcaloides dos cogumelos psilocibinos.

Algumas pessoas consideram a microdosagem uma alternativa mais leve ao uso recreativo de cogumelos. Empiricamente, tem sido utilizada para diversos fins, como aprimorar o desempenho cognitivo, auxiliar no tratamento da ansiedade e depressão, e potencialmente melhorar a criatividade.

Para uma microdosagem segura e eficaz, os utilizadores destacam que é importante usar cogumelos de alta qualidade contendo psilocibina e seguir cuidadosamente os protocolos de microdosagem.

As pessoas têm relatado que a dose típica de uma microdose é de cerca de 0,1 a 0,5 gramas, normalmente administrada com água, chá ou adicionada a alimentos. É importante lembrar que a microdosagem não é uma prática regulamentada e nem sempre funciona para todos de forma homogênea. Deve-se realizar a atividade com acompanhamento médico adequado, sempre respeitando a legislação local sobre seu uso.

Segundo relatos anedóticos, os benefícios da microdosagem de cogumelo podem incluir maior clareza mental, redução da ansiedade e depressão e aumento da empatia e da sensação de conexão com os outros. Também relatam ser útil em ambientes corporativos que exigem alto desempenho mental, como startups de tecnologia.

Os benefícios da microdosagem de cogumelos não são comprovados, muito menos garantidos, e podem variar fortemente de pessoa para pessoa. É importante estar ciente dos possíveis efeitos colaterais e conversar com um profissional de saúde qualificado antes de experimentar a microdosagem.

Pesquisas e estudos sobre a microdose de cogumelo

A microdose de cogumelo tem atraído a atenção de pesquisadores e cientistas em todo o mundo, que buscam entender melhor seus efeitos e benefícios. Estudos renomados foram conduzidos por instituições como a John Hopkins e o Imperial College London, examinando os efeitos da microdose de cogumelo em várias condições, como TDAH, depressão e ansiedade.

Em um estudo randomizado duplo-cego, pacientes com depressão persistente foram submetidos a um protocolo de microdosagem com psilocibina versus um placebo. Os resultados mostraram que aqueles que receberam microdoses de psilocibina tiveram uma redução nos sintomas depressivos. Contudo, muitos participantes do grupo placebo também tiveram os mesmos resultados, colocando em xeque a eficácia real da microdosagem de cogumelos. Há inclusive quem supõe que as microdoses possam não apresentar efeito algum além de placebo:

De modo geral, são necessárias mais pesquisas sobre a microdosagem de cogumelos para saber com certeza se a prática traz benefícios ou não. Embora isso pareça uma notícia ruim para os usuários de microdoses, é realmente interessante como o uso intencional de uma pequena quantidade de uma substância pode influenciar em mudanças comportamentais significativas.

Em outro estudo, pacientes com TDAH foram submetidos a uma combinação de microdose de cogumelo e terapia cognitivo-comportamental, com resultados promissores mas ainda inconclusivos. Alguns estudos parciais sugerem que a microdosagem de cogumelo pode ajudar os pacientes a ter mais clareza mental, foco e redução da ansiedade.

Efeitos colaterais da microdosagem de cogumelos

Um dos efeitos colaterais ou desvantagens mais relatados da microdose é quando as pessoas acidentalmente tomam um pouco demais. Para alguns, isso pode significar uma leve sensação psicodélica, como ver alguns padrões e oscilações visuais quando você descansa os olhos. Para outros pode ser menos uma questão de ver imagens e mais uma sensação de estar um pouco alterado demais para se concentrar nas tarefas.

Outros efeitos colaterais comuns relatados incluem náusea, ansiedade e nervosismo, especialmente durante a primeira ou segunda hora, quando a microdose de cogumelo faz efeito. Algumas pessoas também relatam um pouco de dificuldade para se acalmar e dormir, especialmente quando tomam a microdose no final da tarde.

Um estudo de 2019 constatou que os usuários de microdoses obtiveram uma pontuação mais alta nos testes de “neuroticismo”. Isto que significa que os participantes estavam sentindo mais emoções negativas após a microdosagem. No entanto, os pesquisadores postulam que talvez isso reflita apenas um aumento geral na intensidade das emoções – tanto positivas quanto negativas – durante a microdosagem.

Da mesma forma, Danielle Simone Brand, autora de Weed Mom (Ulysses Press, 2020), explica que as microdoses fazem com que ela se sinta “amplificada”. Portanto, seu foco aumenta, mas tudo o mais também. Para ela, isso pode ser bom para se concentrar em um projeto. Por outro lado, ela acha que os pensamentos e sentimentos se intensificam, o que às vezes se transforma em impaciência com a família.

Efeitos de longo prazo da microdosagem

O pesquisador psicodélico da Universidade Johns Hopkins, Matthew Johnson, Ph.D., citou que poderia haver efeitos a longo prazo das microdoses, mas os cientistas ainda não os descobriram. No entanto, o que ele diz que se sabe que parte do funcionamento dos cogumelos psilocibinos se dá por meio da estimulação do receptor 2B da serotonina.

No final da década de 1990, retirou-se do mercado um medicamento diferente que estimulava o receptor 2B, conhecido como “fen-fen”. Uma pequena fração de pessoas que utilizavam o medicamento “fen-fen”, o qual estimulava o receptor 2B, desenvolveu problemas nas válvulas cardíacas, levando à decisão de retirá-lo do mercado. Essa medida foi tomada devido à atividade agonista 2B, que resultou até mesmo em casos fatais. Portanto, esse mesmo problema na válvula cardíaca também pode ser um risco da microdosagem crônica de longo prazo, mas os cientistas ainda precisam comprovar isso.

Além disso, embora algumas pessoas que preencheram a pesquisa tenham feito microdose de cogumelo todos os dias sem problemas aparentes, especialistas como James Fadiman e Paul Stamets recomendam que se tire alguns dias da semana para evitar o acúmulo de tolerância (veremos seus protocolos exatos a seguir).

Na maioria dos relatos publicados na Internet, as pessoas utilizam microdoses a cada três ou quatro dias por cerca de seis semanas e depois, intuitivamente, tiram alguns meses de folga antes de iniciar outro ciclo.

Protocolos de microdosagem de cogumelos

De acordo com relatos publicados, o primeiro passo para quem pretende começar a microdosagem de cogumelo é escolher a quantidade correta e a única forma possível é por tentativa e erro. Geralmente, as pessoas escolhem de 5 à 10% da quantidade que lhes causaria um efeito psicodélico completo, algo entre 0,1 e 0,5 gramas.

Alguns especialistas formularam seus próprios protocolos de microdosagem para ajudar as pessoas a evitar o acúmulo de tolerância durante a prática com cogumelos e outros tipos de substâncias psicodélicas:

Para garantir que a microdose de cogumelo seja preparada corretamente, além de seguirem algum protocolo de microdosagem, as pessoas relatam outras práticas comuns à todos os protocolos:

1. Pesar a microdose corretamente usando uma balança de precisão de qualidade, com escala centesimal (0.01 g).
2. Tomar a dose pela manhã, preferencialmente de estômago vazio.
3. Registrar os efeitos positivos e negativos e ajustar a dose conforme necessário.
4. Manter uma dieta saudável e balanceada e praticar exercícios físicos regularmente.

Outro fato muito percebido nos relatos é que cada microdose de cogumelo costuma ter efeitos diferentes em cada pessoa, por isso sugerem que é essencial que cada pessoa teste, observe e vá ajustando sua própria microdosagem pessoal.

A legalidade da microdose de cogumelo no Brasil

No Brasil, a Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, regula todos os medicamentos, suplementos, extratos, entre outros. O Brasil proíbe os princípios ativos encontrados nos cogumelos psicodélicos, a psilocibina e a psilocina, listando-os como substâncias psicotrópicas de uso proibido e restrito. Tais substâncias estão sujeitas às penalidades previstas pelas leis de drogas.

No entanto, os cogumelos in natura não constam em nenhuma lista ou tipificados em nenhuma lei, como acontece com a Cannabis e o Peyote, por exemplo. Acaba então existindo uma brecha na legislação brasileira, a qual joga qualquer prática com microdosagem numa área cinza, totalmente dependente de interpretação aleatória do poder judiciário.

Vale ressaltar que o uso terapêutico de cogumelos com psilocibina e o encapsulamento de cogumelos não são regulamentados no Brasil. Tanto o Conselho Federal de Medicina quanto a Anvisa consideram essas práticas ilegais, sujeitas a sérias punições legais. Além disso, é fundamental realizar tratamentos terapêuticos com psilocibina sob o suporte e acompanhamento de profissionais de saúde qualificados e autorizados.

Em geral, a legislação referente à microdose de cogumelo no Brasil é complexa e requer um conhecimento mais aprofundado. Assim, as pessoas podem tomar decisões informadas e seguras. Portanto, é importante estar atento às regulamentações da Anvisa e realizar a microdosagem apenas com a orientação de profissionais de saúde autorizados. Todavia, até o presente momento não existem autorizações em vigência.

Opinião final sobre microdosagem

Após explorarmos a microdose de cogumelo por diversas óticas diferentes, podemos concluir que talvez apresente benefícios terapêuticos. Afinal, há algumas pesquisas científicas e diversos relatos de pessoas que tiveram resultados positivos em suas práticas. Porém, é importante lembrar que mais estudos são necessários para comprovação dos possíveis efeitos positivos e colaterais dessa prática.

Embora alguns possam argumentar que os efeitos positivos da microdosagem de cogumelos podem ser apenas placebo, há indícios que a psilocibina possa apresentar eficácia quando utilizado em dosagem e forma adequadas. Então, não se pode afirmar com certeza nenhuma das hipóteses.

Em resumo, a microdose de cogumelo pode ser considerada uma forma promissora de terapia psicodélica. Porém, é necessário continuar pesquisando e estudando seus efeitos para uma compreensão real de seus possíveis benefícios terapêuticos e efeitos colaterais. Até o presente momento, eles não foram cientificamente comprovados nem descartados.